As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 103 / 339

O meu amo seguiu o conselho do seu amigo e, no dia de feira na cidade próxima, levou-me numa caixa; com ele, à garupa do cavalo iam a minha ama e a filhinha. A caixa era fechada por todos os lados; uma abertura e alguns orifícios facilitavam a ventilação. A minha pequena ama tivera o cuidado de pôr o edredão da cama da boneca para que eu pudesse deitar-me. Apesar de tudo, durante o trajecto de meia hora, andei aos trambolhões. Como o cavalo avançava quarenta pés por passada e se elevava muito no trote, eu sentia-me como se estivesse num barco, no meio de um grande temporal. O trajecto foi mais longo que a distância entre Londres e St. Albans. O meu amo apeou-se numa pousada que costumava frequentar. Depois de conferenciar por alguns momentos com o estalajadeiro e de fazer os preparativos necessários, alugou um pregoeiro para divulgar pela cidade a presença de uma estranha criatura que seria exibida no Green Eagle; era menor que um splacknuck (um animal daquele país, muito bem constituído e de uns seis pés de comprimento), com um aspecto de uma criatura humana e que, além disso, podia dizer algumas palavras e fazer uma série de divertidas momices.

Dentro da pousada, colocaram-me sobre a mesa da sala mais espaçosa, com cerca de trezentos pés quadrados. A minha pequena ama sentou-se num tamborete ao lado da mesa, para cuidar de mim e dizer o que devia fazer. O meu amo, para evitar as aglomerações, só me exibia perante turnos de trinta pessoas. Quando a menina mo ordenava, passeava então pela mesa; fazia-me perguntas acessíveis à minha compreensão do idioma e eu respondia tão alto quanto podia. Dirigia-me algumas vezes ao público, oferecia-lhe as minhas humildes saudações, apresentava as boas-vindas e pronunciava outras frases que me tinham ensinado.





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