As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 108 / 339

Ela então perguntou ao meu amo se estaria disposto a vender-me por um bom preço e ele, que pensava que eu não aguentaria vivo mais um mês, apressou-se a desembaraçar-se de mim e pediu mil moedas de ouro que lhe foram entregues de imediato, sendo cada uma delas do tamanho de oitocentas moedas de ouro, se bem que, tendo em conta a proporção entre as coisas daquele país e as europeias e o elevado valor que o ouro tinha para eles, a soma equivalesse a uns mil guinéus ingleses.

Seguidamente disse à rainha que, uma vez que era agora o seu servidor, o mais humilde dos vassalos de Sua Majestade, pedia o favor para que Glumdalclitch, que sempre me tratara com tanta amabilidade, cuidado e compreensão, pudesse ser admitida a seu serviço, continuando assim como minha ama-seca e instrutora. Sua Majestade acedeu à minha petição e obteve com facilidade o consentimento do lavrador, que ficou extremamente contente por a filha ficar na corte, tal como esta pobre criança que não podia ocultar a alegria. O meu antigo amo retirou-se dizendo que me deixava em boas mãos, ao que não respondi, limitando-me a fazer-lhe uma ligeira vénia.

A rainha apercebeu-se da minha frieza e, quando o lavrador saiu, perguntou-me a razão de tal atitude. Enchi-me de coragem para dizer a Sua Majestade que não tinha mais obrigações para com o meu anterior amo, excepto as que derivavam do facto de não ter esmagado a cabeça de uma criatura inofensiva que fora encontrada por casualidade nos seus campos e que tal obrigação fora amplamente compensada pelos lucros que obtivera exibindo-me por todo o reino e pelo preço da minha venda.





Os capítulos deste livro