As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 14 / 339

A carne era de diferentes animais, mas não os distingui pelo gosto. Havia costeletas, pernas e lombos, como entre nós se apresenta o cordeiro, com excelente aspecto, mas mais pequenos que umas asas de calhandra. A cada dentada engolia dois ou três pedaços e três fatias de pão com o tamanho de balas de mosquete. Davam-me comida o mais depressa que podiam, com grandes demonstrações de admiração e de surpresa perante o meu tamanho e apetite. Fiz-lhes, depois, sinais de que queria beber.

A julgarem pelo que tinha comido, compreenderam que não me conformaria com pouco pelo que, sendo gente muito engenhosa, ergueram com grande habilidade uma das suas maiores cubas e fizeram-na chegar à minha mão, retirando a tampa. Bebi o conteúdo de um trago, o que não foi difícil porque continha apenas meia pinta. Tinha o gosto do vinho de Borgonha, mas muito mais saboroso. Trouxeram-me uma segunda cuba, que esvaziei da mesma maneira, pelo que fiz gestos pedindo mais, mas não tinham. Depois de ter feito estas maravilhas, puseram-se a gritar de alegria e a dançar sobre o meu peito, repetindo várias vezes, como o tinham feito a princípio, Hekinah degul Indicaram-me que atirasse para o solo as duas cubas, tendo avisado antes os que estavam em baixo para se afastarem, gritando-lhes Borach mivola. Quando vieram pelo ar, surgiu um clamor generalizado de Hekinah degul.

Confesso que me sentia por várias vezes tentado, enquanto percorriam o meu corpo, em apanhar com a mão quarenta ou cinquenta dos que estivessem ao meu alcance e atirá-los ao solo.





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