As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 141 / 339

E que, por insignificante que parecesse, esperava viver o suficiente para lhe prestar algum serviço assinalável. O rei escutou-me atentamente e pareceu formar uma opinião mais favorável do que antes a meu respeito. Pediu-me que descrevesse com a maior exactidão possível as instituições políticas de Inglaterra pois, por afeiçoados que fossem os príncipes aos seus próprios costumes, conforme concluiu dos meus comentários sobre outros monarcas, teria muito prazer em escutar algo que fosse digno de imitação.

Imagine, pois, amável leitor, com que frequência ansiei possuir a eloquência de Demóstenes ou de Cícero para poder cantar os prodígios do meu próprio e amado país, num estilo digno dos seus méritos e grandeza.

Comecei, no meu discurso, por informar Sua Majestade que o nosso território se compunha de duas ilhas que, juntamente com as nossas colónias americanas, formavam três poderosos reinos sob o domínio de um único monarca. Alonguei-me muito sobre a fertilidade do nosso solo e a benignidade do nosso clima. Fiz-lhe um comentário geral sobre a composição do Parlamento inglês, parcialmente formado pelo ilustre corpo da Câmara dos Lordes, pessoas da mais elevada estirpe, riqueza e aristocracia. Indiquei-lhe o minucioso cuidado que havia na sua educação nas artes e nas armas, para torná-los capazes como conselheiros naturais do rei e da monarquia; como legisladores, tornando-se membros dos tribunais de última instância, onde as decisões já não são susceptíveis de apelo; e como cabos-de-guerra constantemente preparados para defender o rei e a pátria com valentia, porte e fidelidade. Que eram o brilho e baluarte do reino, dignos sucessores dos mais famosos antepassados, cuja honorabilidade era a recompensa da virtude, e assim conservada intacta pelos seus herdeiros.





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