As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 145 / 339

Se acontecera, em diversas ocasiões, decidir-se a favor e contra uma mesma causa, citando-se precedentes para apoiar opiniões opostas; se constituíam uma corpo ração endinheirada ou pobre. Se recebiam retribuições em dinheiro por aconselhar ou defender os clientes. E, em especial, se eram admitidos como membros na câmara baixa.

Em seguida, passou à gestão das nossas finanças e disse-me que a minha memória me traíra porque tinha calculado que os nossos impostos ascendiam a uns cinco ou seis milhões por ano; e quando me referira aos gastos, ele via que, às vezes, somavam mais do dobro; tirara apontamentos muito pormenorizados sobre este assunto porque esperava, como me disse, que o nosso modo de actuar lhe proporcionasse preciosos ensinamentos. Não podia, assim, ter-se equivocado nos seus cálculos. Mas então, se o que eu dissera estava certo, espantava-se com o facto de um Estado. tal como se fora um vulgar cidadão, poder gastar mais do que recebia. Perguntou-me quem eram os nossos credores e de onde obtínhamos o dinheiro para lhes pagar. Espantava-se em ouvir-me falar de guerras tão custosas e intermináveis; devíamos ser, com certeza, um povo quezilento ou viver rodeados de vizinhos agressivos; e indubitavelmente que os nosso: generais eram mais ricos que os nossos reis. Inquiriu que assuntos trazíamos entre mãos para além das nossas próprias ilhas, à parte os comerciais e diplomáticos, ou os de proteger a nossa costa com a Marinha. Acima de tudo, espantava-se em ouvir-me falar de um Exército permanente mercenário em plena paz, no seio de um povo livre.





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