As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 199 / 339

Chegámos, por fim, a casa, um edifício nobre, construído de acordo com as melhores normas da arquitectura antiga. As fontes, jardins, áleas, caminhos e arbustos apresentavam-se dispostos com critério exacto e bom gosto. Não regateei elogios a tudo o que via. Sua Excelência pareceu não dar por eles e fomos jantar. Então, quando ficámos sós, disse-me com um aspecto acentuadamente melancólico que receava ver-se obrigado a deitar abaixo as suas casas da cidade e do campo e a reconstruí-las segundo a moda vigente, a destruir todas as suas plantações e a voltar a cultivar os campos segundo a regulamentação actual, e ser forçado a dar as mesmas ordens aos seus granjeiros, a não ser que quisesse suportar as censuras por ser orgulhoso, individualista, vaidoso, ignorante, caprichoso, incorrendo talvez até no desagrado de Sua Majestade.

Acrescentou que a minha presente admiração cessaria ou diminuiria quando estivesse informado de alguns aspectos de que provavelmente nunca teria ouvido falar na corte, dado que os cortesãos estão demasiado absortos com as suas especulações para se ocuparem dos assuntos cá de baixo.

Eis aqui, em resumo, o seu relato: há uns quarenta anos algumas pessoas tinham subido a Laputa, quer devido a negócios, quer por divertimento; volvidos cinco meses regressaram com um leve aspecto matemático, mas com a cabeça cheia de rumores voláteis que se adquirem nas regiões etéreas. Quando estas pessoas voltaram, começaram a descurar o governo das coisas terrenas e conceberam o projecto de fazer tábua rasa de todas as artes, ciências, língua e técnicas. Para este efeito, obtiveram uma carta régia que instituía em Lagado a Academia de Planificadores; e esta tendência foi inculcada no povo de tal maneira que não há cidade que se preze que não tenha a correspondente academia.





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