As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 201 / 339

Sobre ele fez-me a seguinte exposição: que teve há muito tempo, a meia milha da sua casa, um excelente moinho, movido pela corrente de um rio caudaloso, que servia as necessidades da família, tal como as de um grande número dos granjeiros. Vai para uns sete anos, uma comissão daqueles técnicos e académicos de que já falámos visitaram-no, propondo-lhe destruir esse moinho e construir outro na aba da montanha; ia-se abrir um canal na comprida crista que desembocaria num enorme depósito onde, com a ajuda de tubos e de maquinaria, se bombearia a água para alimentar o movimento das rodas do moinho; a água removida pelo ar e pelos ventos dos cumes possui muita força motriz e, além disso, ao chegar ao moinho depois de uma pronunciada descida, fá-lo-á trabalhar com metade da corrente de um rio cujo curso seja menos inclinado. Como as suas relações com a corte não eram muito boas, e pressionado por muitos dos seus amigos, aceitou a proposta. Utilizaram-se cem trabalhadores durante dois anos, as obras não deram os resultados teorizados e os engenheiros foram-se embora atribuindo-lhe a ele toda a culpa e tornando-o alvo dos seus sarcasmos, a partir de então. E quando a outros foi feita idêntica experiência, as mesmas garantias de êxito terminaram em análogo fracasso.

Ao fim de alguns dias regressámos à cidade, e Sua Excelência, consciente do quão pouco na academia o apreciavam, não quis acompanhar-me pessoalmente, confiando essa missão a um amigo. O meu acompanhante, com deleite, apresentou-me como um grande admirador de projectos e com um espírito muito curioso e crédulo; a falar verdade, isto não era de todo falso, pois eu próprio fora, na minha juventude, uma espécie de inventor.





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