As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 21 / 339

Não me teria alongado tanto neste incidente, que à primeira vista pode parecer insignificante, a não ser pela necessidade de justificar o comportamento que tive ao degradar o ambiente. Sei, no entanto, excessivamente bem que os meus detractores aproveitaram estes incidentes para atacar-me.

Uma vez resolvido este problema, saí de casa para tomar fresco. O imperador descera já da torre e foi difícil acercar-se com a sua montada. Esta, apesar de ser mansa, empinou-se ao ver-me, pois eu devia parecer-lhe uma montanha em movimento. O príncipe, como bom cavaleiro que era, aguentou-se na sela até que os servidores chegaram a toda a pressa e seguraram as rédeas e, assim, pôde desmontar. Quando o fez, observou-me de cima para baixo com grande assombro, mas fora do meu alcance. Ordenou a cozinheiros e a mordamos que me trouxessem de comer e de beber. Fizeram-me chegar os víveres através de uns artefactos com rodas que recolhi e esvaziei por completo. Vinte continham carne e dez, bebida. Os primeiros proporcionaram-me dois ou três bocados cada um. Bebi de um só trago o conteúdo de dez vasilhas de barro que vinham num artefacto, fazendo o mesmo com o resto. A imperatriz e os jovens filhos de ambos os sexos, acompanhados por numerosas damas, permaneciam afastados e sentados até que um inesperado arroto meu fê-los levantar-se e correr para o imperador, cuja personalidade me preparo para descrever.

Supera, pelo tamanho da minha unha, todos os cortesãos em altura, o que para qualquer observador constitui motivo de assombro. Os traços do seu rosto expressam força e honradez, tem nariz aquilino, o lábio belfo, tez escura, semblante distinto, corpo e membros bem proporcionados, movimentos elegantes e o porte majestoso.





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