As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 227 / 339

E fariam a mesma coisa se voltassem de novo a viver; e procuraram demonstrar-me com todo o género de argumentos que o trono real não pode ser conservado sem corrupção, já que o carácter de segurança, firmeza e inflexibilidade que emana da virtude provoca grande obstáculo ao bom desenrolar dos assuntos de Estado.

Tive a curiosidade de inquirir muito especialmente sobre o método seguido por tantos para alcançar altos títulos honoríficos e fabulosas riquezas. Limitei a minha pergunta a uma época muito recente, sem me referir à actual, porque queria estar certo de não ofender ninguém, mesmo estrangeiros (espero que o leitor não necessite que lhe recorde que nada do que aqui se diz tem a ver com a minha pátria). Fiz, então, perguntas a numerosas personalidades que, de livre vontade, revelaram coisas tão infames que se me torna impossível pensar nisso sem alguma preocupação. O perjúrio, a opressão, a corrupção, a fraude, a cunha e outros males eram, alguns dos métodos mais desculpáveis que mencionaram e para os quais obviamente, manifestei muita indulgência. Mas quando alguns reconheceram que deviam a sua grandeza e prosperidade à sodomia ou ao incesto outros que tinham prostituído a mulher e as filhas, ou que tinham utilizado veneno ou mesmo coisa muito frequente tinham subornado um tribunal para condenar inocentes, espero que se me perdoe se tais revelações abalaram a profunda veneração que naturalmente me inspirar:: as pessoas de elevada condição que devem ser tratadas por nós, subordinados, com infinito respeito.

Lera muito sobre alguns grandes serviços prestados a príncipes e a Estados e quis conhecer os seus executores. Em resposta ao meu pedi de foi-me dito que eram desconhecidos os seus nomes, salvo alguns daqueles que personificam na história o cúmulo da maldade e da traição. Os restantes eram-me totalmente desconhecidos.





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