As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 252 / 339

Como alguns se aproximaram do meu esconderijo, tive a ocasião de ver melhor os corpos deles. Tinham a cabeça e o peito cobertos de pêlo espesso, nuns encrespado, noutros caído. Tinham barbas de chibo e uma abundante cabeleira que lhes caía pelo dorso e pela parte anterior das patas e das mãos. O resto do corpo não tinha pêlo, e pude observar a pele, de cor castanho-escura. Não possuíam cauda e os quadris não tinham pêlo, excepto em redor do ânus. Suponho que a natureza os fez assim para os proteger quando se sentavam. As posições que adoptavam eram sentar-se, deitar-se ou ficar de pé sobre as patas traseiras. Encarrapitavam-se nas árvores mais altas com a agilidade de esquilos; as patas anteriores e posteriores possuíam fortes garras, terminadas por unhas curvas e afiadas. Comiam com frequência, nos intervalos de saltos e brincadeiras de espantosa agilidade. As fêmeas eram de tamanho mais pequeno que os machos. Tinham a cabeça coberta de pêlo liso e só uma espécie de penugem no resto do corpo, salvo em redor do ânus e dos órgãos genitais. Os excrementos ficavam pendurados entre as patas traseiras, caindo enquanto caminhavam. O pêlo de ambos os sexos era de cor variável: castanho, vermelho, negro e amarelo. Ao longo das minhas viagens jamais vira animal mais desagradável e que provocasse uma repelência tão instintiva. Julgando que vira o suficiente, ergui-me, cheio de desprezo e asco, e prossegui a caminhada pelo caminho cheio de pistas, na esperança de me levar à cubata de algum indígena. Mal dera uns passos quando deparei, em pleno caminho, com uma dessas criaturas que avançava directamente para mim. Este monstro assombroso pôs-se a fazer esgares ao ver-me e contemplou-me como se estivesse a olhar para um bicho raro.




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