As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 260 / 339

Enquanto estávamos assim enredados, reparei numa vaca que passava e apontei para ela, manifestando com gestos o meu desejo de ordenhá-la. A resposta não se fez esperar, mas forçou-me a entrar de novo em casa e ordenou a uma égua servente que abrisse uma arrecadação onde havia grandes reservas de leite em recipientes de madeira e barro, muito limpos e ordenados. Deu-me uma vasilha cheia, que bebi com grande avidez e que me reconfortou.

Cerca do meio-dia vi que se aproximava de casa uma espécie de veículo semelhante a um trenó, puxado por quatro yahoos. Vinha nele um velho cavalo de aspecto nobre; apeou-se, apoiando primeiro no solo as patas traseiras, dado que lesionara a pata anterior esquerda num acidente. Vinha almoçar a casa do nosso cavalo, que o recebeu com extrema cortesia. Comeram na sala nobre alimentos frios, excepto o segundo prato, constituído por sopa de aveia com leite, e que o cavalo velho comeu quente. O estábulo estava disposto de forma circular no meio da sala, dividido por diversos compartimentos. Em redor sentavam-se os convivas sobre os quartos traseiros, em molhos de palha. No interior do círculo havia divisões angulares que correspondiam a cada compartimento. Assim, cada égua e cavalo comiam o seu próprio feno e sopa de aveia com leite com muita higiene e correcção. O potro e a potra comportavam-se com grande urbanidade e os donos da casa mostravam-se muito cordiais e complacentes com o convidado. O cavalo cinzento às manchas ordenou-me que ficasse a seu lado; e eu fui o objecto de grande divertimento entre o meu amo e o amigo, como pude deduzir das frequentes miradas que o forasteiro me dirigia e pela repetição da palavra yahoo.

Fora de luvas para a mesa e, ao observá-lo, o dono da casa pareceu perplexo.





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