As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 273 / 339

Não obstante, esforçar-me-ia por fazê-lo o melhor possível e procuraria estabelecer comparações, pedindo humildemente a sua ajuda quando não encontrasse a palavra adequada, coisa que amavelmente me prometeu.

«Nasci disse de pais honrados numa ilha chamada Inglaterra, que se encontra muito longe do vosso país, a tal distância que o mais forte dos criados de Sua Excelência não poderia percorrê-la nem sequer num ano. Tirei o curso de medicina, que consiste em tratar das feridas e lesões corporais provocadas pela violência. O meu país é governado por uma congénere fêmea que chamamos rainha. Ausentei-me dele para acumular riquezas com que manter a minha mulher e filhos, quando do meu regresso. Na minha última viagem, era o comandante do barco e tinha cinquenta yahoos sob o meu mando, muitos dos quais morreram durante a travessia, e vi-me obrigado a substituí-los por outros de diversas nacionalidades. Por duas vezes o nosso barco esteve em perigo de afundamento: a primeira, por causa de uma tempestade, a segunda por colidir com um recife.» Neste ponto, o meu amo interrompeu-me para perguntar como pudera persuadir estrangeiros de diferentes países a engajarem-se no barco, depois das baixas sofridas e dos perigos que correra. «Essa gente repliquei era constituída por aventureiros de adversa fortuna, obrigados a fugir do seu próprio país, devido à sua pobreza ou a crimes cometidos. Os litígios tinham arruinado alguns; outros tinham desbaratado tudo em bebida, mulheres e jogo; outros ainda haviam fugido por traição; muitos por assassinato, roubo, envenenamento, furto, perjúrio, cunhagem de moeda falsa ou por diversas falsificações; por terem cometido estupro ou sodomia; por terem desertado ou por terem-se passado para o inimigo.





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