As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 276 / 339

Inquiriu-me quanto às causas habituais das guerras e por que motivo um país ataca outro. Respondi-lhe que eram inúmeras, embora fosse só mencionar algumas das principais. Às vezes, a ambição dos príncipes que nunca julgam que têm bastantes terras ou súbditos para governar; outras vezes, a corrupção dos ministros que arrastam os monarcas para uma guerra para dissimular uma governação deficiente. As diferenças de opinião custaram milhões de vidas. Por exemplo, quando se discutiu se a carne era pão ou o pão carne; sobre se o sumo de certas bagas era sangue ou vinho; se o assobiar era um vício ou uma virtude; se se devia beijar uma madeira ou deitá-la na lareira; qual a cor mais adequada para uma casaca, se o branco, o vermelho ou o cinzento; e se esta deveria ser comprida ou curta, cingida ou larga, suja ou limpa; e outras questões desta índole. As guerras são mais encarniçadas, sangrentas e duradouras quando estalam por divisão de opiniões sobre assuntos geralmente fúteis.

Às vezes surgem polémicas entre dois monarcas para determinar qual deles arrebatará as possessões de um terceiro, apesar de não terem qualquer direito de o fazer. Outras vezes um príncipe querela com outro com receio de que este possa ser o primeiro a fazê-lo. Há casos em que se declara guerra porque o inimigo é excessivamente poderoso, e noutros casos por ser demasiado débil. Por vezes, os nossos vizinhos cobiçam o que possuímos ou têm o que desejamos; então lutam os dois até que um deles arrebata o nosso ou nos entrega o seu. Constitui uma muito legítima causa de guerra invadir um país cuja população tenha sido dizimada pela fome ou pela peste ou exaurida por lutas entre facções internas.





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