As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 283 / 339

CAPÍTULO VI

Situação da Inglaterra sob a rainha Ana (continuação). Carácter de um primeiro-ministro nas cortes europeias.

Ao meu amo não lhe entrava na cabeça que motivos impeliam aquela raça de advogados a preocupar-se, inquietar-se e cansar-se para formar um agrupamento de injustiça, apenas com o propósito de prejudicar os seus congéneres animais. Tão-pouco percebia o que significava «fazê-lo por dinheiro». Por consequência, foi-me difícil explicar-lhe o uso do dinheiro, as substâncias de que se compunha e o valor dos metais. Disse-lhe que, quando um yahoo acumulava uma grande quantidade daquela preciosa substância, podia comprar o que lhe apetecesse, o vestuário mais refinado, as casas mais luxuosas, grandes extensões de terreno, os alimentos e as bebidas mais caros, obter as mulheres mais formosas. E uma vez que só com dinheiro se podia conseguir tudo isto, os nossos yahoos pensavam que nunca teriam o suficiente para gastar ou poupar, segundo se deixavam conduzir pela sua natural propensão para a prodigalidade ou para a avareza. O rico tirava proveito do trabalho do pobre e a proporção era de mil pobres para um rico. A maioria do nosso povo via-se obrigada a viver miseravelmente, trabalhando todos os dias com salário diminuto para que outros pudessem viver na opulência. Alonguei-me muito nestes e noutros pormenores, todos conducentes para o mesmo fim. Mas Sua Excelência continuava a não perceber com clareza uma vez que supunha que tais animais, especialmente os encarregados de outros, tinham direito a participar nos produtos da terra. Manifestou assim que desse a saber em que consistiam esses alimentos caros e por que precisávamos deles.





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