As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 288 / 339

Mas ao ter mencionado, neste ponto, por acaso, a designação «ministro de Estado», ordenou-me pouco depois que esclarecesse a que específica raça de yahoo me referia com aquele apelativo.

Respondi-lhe que a pessoa que ia descrever era um primeiro-ministro de Estado, um ser completamente carente de alegria e tristeza, amor e ódio, ira e clemência; ou que, pelo menos, não se deixa arrastar por estas paixões, salvo por uma ânsia incontível de riqueza, poder e de títulos de nobreza; que usa as palavras para tudo, menos para manifestar o seu pensamento; que nunca declara uma verdade se não for com a intenção de ser considerada mentira; nem uma mentira, a não ser com o propósito de ser tomada como verdade; que os seus favoritos eram aqueles de quem falava mal pelas costas; e que alguém podia considerar-se perdido a partir do momento em que recebia os seus elogios ou era elogiado ante outros. Mas o pior indício de todos era receber-se dele uma promessa, em especial se confirmada por juramento: neste caso, qualquer homem de bom senso retira-se e renuncia a qualquer esperança.

Há três formas de aceder ao cargo de primeiro-ministro. A primeira consiste em fazer entrar no jogo a mulher, a filha ou a irmã. A segunda, trair o predecessor ou empurrá-lo para uma ratoeira. A terceira, manifestar em assembleias públicas um zelo vigoroso contra as corrupções da corte. Um príncipe discreto escolherá preferentemente um primeiro-ministro de entre os que utilizam o terceiro método, pois esta classe de zelotes são depois os mais obsequiosos e submissos às vontades e paixões dos amos.





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