As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 31 / 339

CAPÍTULO III

O autor diverte o imperador e os seus cortesãos de uma maneira pouco vulgar. Descrevem-se as diversões da corte de Lilliput. Concede-se a liberdade ao autor sob certas condições.

A minha paciência e conduta obtiveram, em elevado grau, o favor do rei e da sua corte e, bem entendido, do exército e do povo em geral, pelo que comecei a alimentar esperança na minha rápida libertação. Utilizei todos os estratagemas possíveis para fomentar essa predisposição que me favorecia. Os nativos tornaram-se cada vez menos apreensivos relativamente ao perigo que eu pudesse constituir. Às vezes deitava-me por terra e permitia que cinco ou seis dançassem na minha mão. E, por fim, os rapazes e as raparigas aventuravam-se a brincar às escondidas entre os meus cabelos. Por essa altura tinha efectuado consideráveis progressos para compreender e falar aquele idioma. Um dia o imperador quis distrair-me com diversos espectáculos característicos do país e que, pela sua arte e beleza, excediam tudo o que tinha visto. Nenhum me agradava tanto como o dos equilibristas, executado sobre um delgado fio branco de uns dois metros de comprimento, a cerca de doze polegadas do solo. Com a permissão do leitor vou alongar-me um pouco mais nos pormenores.

Este entretenimento é praticado apenas pelos candidatos a funções importantes e a favores especiais da corte. Ainda que nem sempre provenham de nobre berço ou tenham apurada educação, exercem esta habilidade desde jovens. Quando, por falecimento ou por se ter caído em desgraça (o que acontece com frequência), uma posição oficial fica vaga, cinco ou seis desses candidatos pedem ao imperador que organize um sarau de dança sobre a corda para entretenimento da corte de Sua Majestade.





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