As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 322 / 339

CAPÍTULO XI

Perigosa travessia. O autor chega a Nova Holanda esperando estabelecer-se ali. Um nativo fere-o com uma fecha. É capturado e embarcado à força num barco português. Extrema amabilidade do comandante. O autor chega a Inglaterra.

Comecei aquela travessia desesperada a 15 de Fevereiro de 1715, às nove da manhã. O vento era muito favorável; no entanto, a princípio apenas utilizei os remos. Mas considerando que em breve ficaria cansado e que o vento poderia mudar, atrevi-me a içar a pequena vela. Assim, com a ajuda da maré atingi uma velocidade estimada de légua e meia por hora. O meu amo e os seus amigos permaneceram na costa até quase me perderem de vista. Ainda ressoavam nos meus ouvidos as palavras do alazão de tiro, que tanto gostava de mim: bnuy illa nyba maiah yahoo («Boa sorte, gentil yahoo»).

O meu objectivo era, na medida do possível, descobrir alguma pequena ilha desabitada, mas que tivesse recursos suficientes para me manter vivo. Para mim isto seria muito melhor que ser primeiro-ministro na mais refinada corte europeia tão horrorosa era para mim a perspectiva de voltar a viver em sociedade sob governo dos yahoos. Nesta ansiada solidão poderia, pelo menos, deleitar-me com os meus pensamentos e ponderar com gosto nas virtudes daqueles inimitáveis houyhnhnms, evitando recair nos vícios e corrupções da minha própria espécie.

O leitor recordará talvez o que relatei quando a minha tripulação se amotinou e me prendeu no camarote. Permanecera ali várias semanas sem conhecer o rumo do barco e, quando me conduziram a terra na chalupa, os marinheiros tinham-me jurado não sei se dizendo a verdade ou mentindo que desconheciam em que zona do mundo estávamos.





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