As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 63 / 339

As costureiras tiraram-me as medidas enquanto estava alongado no solo; uma estava de pé no meu pescoço e outra na barriga da perna; cada uma segurava a extremidade de uma corda, enquanto uma terceira media o comprimento da mesma com uma régua de uma polegada. Mediram-me depois o polegar direito, e foi quanto bastou; porque, mediante um cálculo matemático, sabiam que o perímetro do polegar multiplicado por dois equivale à medida do pulso; e o mesmo sistema serve para calcular o pescoço e a cintura; foi-lhes também útil a minha camisa velha, que estendi no solo para que lhes servisse de modelo; e assim vestiram-me perfeitamente à medida. Trezentos alfaiates trabalharam no meu vestuário, tendo de inventar outros sistemas para tirar-me as medidas. Ajoelhei-me e encostaram uma escada do solo até ao meu pescoço; subiram e deixaram cair um prumo a partir da gola da minha camisa, obtendo assim o comprimento da jaqueta. Eu próprio tirei as medidas da cintura e dos braços. Fizeram o trabalho na minha casa (não teria havido espaço suficiente nas casas deles, mesmo nas maiores), e quando as peças de vestuário ficaram concluídas pareciam os remendos que fazem as damas inglesas, só que os meus eram todos da mesma cor.

Para a preparação da comida tinha trezentos cozinheiros que, juntamente com as famílias, viviam numas barracas feitas para a ocasião, perto de minha casa, e preparavam-me, cada um, dois pratos. Com a mão, agarrava vinte criados e colocava-os sobre a minha mesa; outros cem aguardavam no chão, alguns com pratos de carne, outros com barris de vinho ou com licores, que traziam ao ombro; os criados de cima faziam subir tudo o que queria, de forma muito engenhosa, utilizando cordas, da mesma maneira que na Europa subimos o balde de um poço.





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