As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 65 / 339

Nesta altura sinto-me obrigado a defender a reputação de uma excelente e inocente dama que sofreu por minha culpa. O ministro da Fazenda começou a sentir ciúmes quanto a sua mulher, devido à malícia de algumas bocas malévolas; estas informaram-no que sua graça sentia um violento afecto pela minha pessoa, e más-línguas na corte propalaram, durante algum tempo, que ela, certa vez, visitara os meus aposentos. Com solenidade, e sem permitir lugar a quaisquer dúvidas, declaro que é a mais infame das falsidades; além disso, sua graça mostrava-se encantada em tratar-me com todos os sinais inocentes de liberdade e amizade. Devo dizer que me visitou com frequência, mas sempre publicamente, e sem nunca trazer menos de três pessoas na carruagem (geralmente a sua irmã, a filhinha e uma ou outra amiga). Mas isto também acontecia com muitas outras damas da corte. E pediria ainda o testemunho dos meus criados, pois sempre que parava uma carruagem na minha porta sabiam quem viajava nela. Nessas ocasiões, depois de o criado me ter informado, costumava ir imediatamente à porta; e depois de apresentar os meus respeitos, apanhar cuidadosamente a carruagem e os dois cavalos na minha mão (porque, se havia seis cavalos, o postilhão desaparelhava quatro), colocava-os numa mesa, onde pusera um aro móvel circular com cinco polegadas de altura, para evitar acidentes. E muitas vezes, em simultâneo, tinha quatro carruagens com visitas, enquanto me sentava e me inclinava na direcção deles; e quando estava ocupado com uma visita, o cocheiro conduzia educadamente as demais até à mesa. Passei tardes muito agradáveis com estes encontros.





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