As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 75 / 339

Porque se tivesse conhecido então a natureza dos príncipes e ministros, como mais tarde tive a possibilidade de observar noutras cortes, e os seus métodos de tratar criminosos menos perigosos do que eu, ter-me-ia submetido com grande júbilo e prontidão a tal castigo; mas, impulsionado por uma precipitação juvenil e dispondo da autorização de Sua Majestade Imperial para visitar o imperador de Blefuscu, aproveitei esta oportunidade antes que decorressem os três dias. Assim, enviei uma carta ao meu amigo secretário explicando-lhe a minha decisão de partir nessa manhã para Blefuscu, graças à autorização de que dispunha e, sem esperar resposta, dirigi-me para o lado da ilha onde se encontrava a nossa frota. Apossei-me de um grande navio de guerra, atei um cabo à proa e, depois de içar âncoras, despi-me, coloquei as minhas roupas (que trazia debaixo do braço, juntamente com a manta) no barco e, puxando por ele, umas vezes caminhando, outras nadando, cheguei ao porto real de Blefuscu, onde havia tempo que a gente me esperava; cederam-me dois guias que me conduziram à capital, que tinha o mesmo nome. Levei-os nas mãos até que chegámos a umas duzentas jardas da porta e pedi-lhes que comunicassem a minha chegada a um dos secretários e dessem a saber a Sua Majestade que estava às suas ordens. Passada uma hora, trouxeram-me a resposta de que Sua Majestade, a família real e altos dignitários da corte viriam receber-me. Avancei cem jardas. O imperador e o seu séquito desmontaram, a imperatriz e as damas saíram das carruagens, e não senti que tivessem temor ou preocupação. Deitei-me no chão para beijar a mão de Sua Majestade e da imperatriz.




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