As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 89 / 339

Fui tomado pelo maior dos espantos e dos sustos e corri a esconder-me no meio da cevada, de onde o vi no cimo daqueles degraus a olhar para campo do lado, o da direita, e a chamar alguém com uma voz ribombante, e o som produzia-se a tal altura que, de início, julguei tratar-se de um trovão. Acto contínuo aproximaram-se sete monstros empunhando foices, cada uma com o tamanho de seis gadanhas. Não iam tão bem vestidos como o que os chamara, pelo que pareciam ser criados dele ou trabalhadores rurais, uma vez que, depois de lhes ter dirigido umas palavras, encaminharam-se para o campo onde me encontrava para ceifar a cevada. Procurava manter-me o mais possível longe deles mas via-me forçado a mover-me com extraordinária dificuldade dado que as hastes dos cereais se encontravam, às vezes, a cerca de um pé de distância umas das outras, de forma que mal podia esconder-me entre elas. Apesar disso, fiz um esforço para seguir adiante, até que cheguei a uma parte do campo em que a cevada estava caída devido à chuva e ao vento e foi-me impossível dar um passo mais, pois as hastes estavam tão entrelaçadas que não podia passar através delas e as aristas das espigas eram tão fortes e pontiagudas que se cravavam na carne através da roupa. Ao mesmo tempo ouvia os ceifeiros a menos de cem jardas atrás de mim. Muito desalentado pela fadiga, e totalmente vencido pela angústia e pelo desespero, deitei-me entre dois camalhões e cheguei a desejar, com toda a minha alma, terminar ali os meus dias. Pensava com tristeza na minha desolada viúva e nos meus filhos órfãos. Acusava-me da minha loucura e obstinação em empreender uma segunda viagem contra o parecer de todos os parentes e amigos.




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