Nesta agitação mental não pude deixar de pensar em Lilliput, cujos habitantes me tinham considerado o maior prodígio do mundo e onde fora capaz de arrastar com a mão toda uma frota imperial e realizara outras proezas que ficariam registadas para sempre nas crónicas daquele império e que a posteridade teria dificuldade em admitir, tendo embora sido testemunhadas por milhões de seres. Meditei como seria penoso para mim surgir como um ser tão insignificante perante aquela nação de gigantes, tal como um liliputiano O seria perante nós. E considerei que esta seria a menor das desgraças para mim uma vez que, como já se provou, sendo os humanos tanto mais selvagens e cruéis quanto maior é o seu tamanho, que coisa poderia esperar que não fosse converter-me num simples pedaço de carne nas fauces do primeiro daqueles enormes bárbaros que me apanhasse? Não há dúvida nenhuma de que têm razão os filósofos quando nos dizem que nada é grande ou pequeno senão em comparação. Quem sabe se os liliputianos irão deparar um dia com uma nação em que as pessoas sejam tão diminutas relativamente a eles, como eles o eram em relação a mim? Quem sabe mesmo se esta prodigiosa raça de mortais pudesse também ser ultrapassada nalgum distante e ainda desconhecido lugar do mundo?
Assustado e confundido, não conseguia abandonar este tipo de reflexões, quando um dos ceifeiros, ao aproximar-se a menos de dez jardas do camalhão onde me encontrava, me deu a consciência de que, na passada seguinte que desse, iria morrer esmagado sob os seus pés ou cortado em dois pela foice, pelo que, quando se preparava para avançar, gritei com a força que o medo me dava. Após isto, a gigantesca criatura deu uns passos curtos como que à procura de um rato à sua volta e, por fim, conseguiu ver-me deitado no solo.
