O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 50 / 158

- Vamos! - E os três escapuliram-se para a Selva por uma brecha da muralha.

- Uf! - disse Bálu, quando se achou de novo sob as árvores calmas. - Nunca mais quero Cá para aliada - e sacudiu-se todo. - Ela sabe mais que nós- disse Bàguirà a tremer. - Se me tivesse demorado mais não tardaria a descer-lhe pela goela.

- Muitos percorrerão essa estrada antes que a Lua volte a nascer - disse Bálu. - Vai fazer boa caçada, a seu modo.

- Mas que queria dizer tudo aquilo? - perguntou Máugli, que nada sabia do poder fascinante do pitão. - Eu não vi senão uma grande serpente a descrever círculos caprichosos, até que escureceu. E tinha o focinho todo ferido. Ora! Ora!

- Máugli - disse Bàguirà, colérica - tinha o focinho ferido por tua causa; assim como eu tenho as orelhas, ilhargas e patas doridas, e Bálu o pescoço e as espáduas, por tua causa. Nem Bálu nem Bàguirà poderão ter gosto na caça durante muitos dias.

- Não importa - disse Bálu -, temos o cachorro de homem outra vez.

- É verdade, mas custou-nos muito, não só em tempo, que se poderia ter gasto em caça proveitosa, mas também em ferimentos, em pêlo, tenho o lombo meio despelado, e finalmente em honra. Porque, lembra-te Máugli, eu, que sou a pantera negra, fui obrigada a pedir socorro a Cá, e eu e Bálu fomos ambos fascinados como passarinhos pela dança da fome. E tudo isto, cachorro de homem, por teres brincado com os Bândarlougue.

- Verdade, é verdade - disse Máugli, pesaroso. - Sou um malvado cachorro de homem, e trago cá dentro o coração muito triste.

- Mf! Que diz a Leia da Selva, Bálu?

Bálu não queria meter Máugli em mais apuros, mas também não podia torcer a Lei; portanto, tartamudeou:

- O arrependimento não suspende o castigo. Mas lembra-te, Bàguirà, de que ele é pequenino.





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