O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 49 / 158

Bálu desceu ao tanque a beber e Bàguirà começou a assentar o pêlo, ao mesmo tempo que Cá deslizava para o meio do terraço e dava com as mandíbulas um sonoro estalo que chamou sobre ela os olhos de todos os macacos.

- A Lua põe-se - disse ela. - Ainda há luz para ver?

Das muralhas veio um gemido como o do vento nas copas das árvores:

- Nós vemos, ó Cá!

- Bem. Começa agora a dança, a dança da fome de Cá. Estai quietos e olhai.

Descreveu duas ou três vezes um grande círculo, balouçando a cabeça da direita para a esquerda. Depois começou a descrever curvas e figuras de oito com o corpo e brandos triângulos indecisos, que se desfaziam em quadrados, pentágonos e montes de roscas, sem nunca parar nem se apressar, e sem nunca cessar o canto brando do zumbido. Ia aumentando a escuridão, até que, por fim, a espiral arrastada e movediça deixara de se ver, mas podia ainda ouvir-se o sussurro das escamas.

Bálu e Bàguirà estavam quedos como pedras, engolindo em seco, com os pêlos do cachaço eriçados, e Máugli nem pestanejava de espantado.

- Bândarlougue - disse por fim a voz de Cá -, sois capazes de mover pé ou mão sem ordem minha? Falai?

- Sem ordem tua não podemos mexer nem pé nem mão, ó Cá!

- Bem! Avançai todos um passo para mim.

As filas dos macacos adiantaram-se irresistivelmente, e Bálu e Bàguirà deram um passo rígido para diante como eles.

- Avançai mais! - silvou Cá. E todos se mexeram de novo. Máugli pousou as mãos em Bálu e Bàguirà para os afastar dali, e as duas grandes feras estremeceram, como se acordassem de um pesadelo.

- Não me tires a mão do ombro - segredou Bàguirà. Deixa-a estar, senão terei de voltar, terei de voltar para Cá. Ah! - Não é senão a velha Cá a fazer círculos sobre o pó - disse Máugli.





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