- Que lhe reclama ele?
- A mão.
- A mão?
- Sim. Há uma dezena de anos fui chamado para uma consulta em Peshawar; durante a minha permanência, pediram-me para observar a mão de um indígena que atravessara a cidade com uma caravana afegã. Era originário de uma tribo das montanhas que vivia ao longe, no outro lado do Cafiristão, e falava um dialecto quase ininteligível. Apresentava uma tumefacção sarcomatosa numa das junturas metacárpicas e tentei fazer-lhe compreender que só poderia salvar a sua vida com o sacrifício da mão. Custou-me muito convencê-lo; finalmente, consentiu na operação. Uma vez terminada, perguntou-me quanto me devia. O pobre diabo era quase um mendigo, não estava em causa reclamar-lhe honorários. Mas respondi-lhe a brincar que me contentaria com a sua mão, e que tencionava acrescentá-la à minha colecção patológica.
"Para minha grande surpresa, opôs-me inúmeras objecções. Explicou-me que, para a sua religião, era muito importante que o corpo fosse reunido depois da morte a fim de servir de habitação perfeita ao espírito. Esta crença é, como sabe, muito antiga, e as múmias dos Egípcios procedem de uma superstição análoga.