Perguntei-lhe como é que a conservaria. Disse-me que a faria marinar em sal e que a traria sempre consigo. Declarei-lhe que ficaria, sem dúvida, mais segura em minha casa do que com ele, e que eu dispunha de melhores ingredientes do que o sal para guardá-la. Quando compreendeu que desejava realmente conservá-la;' a sua oposição cessou como por encanto. "Mas lembra-te,
saíbo", disse-me ele, "de que virei buscá-la quando morrer." Ri-me e o caso ficou concluído. Voltei para junto da minha clientela e ele pôde retomar a estrada para o Afeganistão.
"Como lhe disse ontem à noite, a minha casa de Bombaim ardeu quase por completo; entre outras, a minha colecção patológica foi quase completamente destruída, incluindo a mão do montanhês: isto foi há seis anos.
"Na altura não pensei em lastimar esta mão. Mas dois anos depois do incêndio fui acordado uma noite por alguém que me puxava furiosamente pela manga. Sentei-me na cama, pensando que o meu cão preferido tentava arrancar-me ao sono. Em vez dele, vi o meu doente hindu de outrora, vestido com a comprida túnica cinzenta que era o traje nacional do seu país. Brandia o coto e contemplava-me com ar de reprovação. Foi depois para o lado dos meus bocais, que eu então conservava no meu quarto; examinou-os atentamente, depois esboçou um gesto de cólera e desapareceu. Adivinhei que acabava de morrer e que viera recordar-me a minha promessa e reclamar o seu membro.
"Pronto! Agora sabe tudo, dr. Hardacre. Todas as noites à mesma hora, desde há quatro anos, reproduz-se a mesma cena. Desgastou-me como uma pedra sobre a qual cai regularmente uma gota de água. Trouxe-me insónias, porque não consigo dormir: espero a chegada do meu hindu. Envenenou-me os meus últimos dias e os da minha mulher que teve a sua parte desta grande preocupação.