Histórias Extraordinárias - Cap. 6: O QUARTO DO PESADELO Pág. 131 / 136

De súbito, ofegou:

- Campbell! É de Campbell!

Ela recobrou a audácia. Já não tinha nada que ocultar.

A expressão do seu rosto tornou-se dura e firme e os seus olhares pareciam punhaladas mortais.

- Sim, é de Campbell! - gritou.

- Santo Deus! Precisamente de Campbell!

Pôs-se de pé e percorreu com largas passadas a sala.

Campbell, o mais nobre de todos os homens com quem se cruzara na vida; Campbell, cuja história era apenas constituída por uma larga cadeia de sacrifícios, de coragem, de todas as qualidades que distinguem um homem às direitas. Também ele era mais uma vítima daquela sereia e vira-se arrastado até ao ponto de atraiçoar, se não de facto, pelo menos de intenção, o homem cuja mão apertava como a de um amigo. Aquilo parecia incrível, mas ali estava, nas suas mãos, a carta apaixonada, suplicante, em que ele pedia à sua esposa que fugisse e compartilhasse o destino de um homem pobre. Mas, pelo menos, todas as frases da carta davam a entender que Campbell não tinha pensado na sorte de Mason, que o teria desembaraçado de todo o género de dificuldades. Uma solução tão endemoninhada só podia ser produto do cérebro astuto e malvado que maquinava os seus planos dentro daquele quarto maravilhoso.

Mason era um homem como aqueles que só se encontra um num milhão: filósofo, pensador, dono de uma simpatia cheia de compreensão e de ternura para com os demais. A sua alma ficou afogada em amargura durante um momento. Nessa altura teria sido capaz de matar a mulher e Campbell, para depois se suicidar com a serenidade de espírito própria de quem cumpriu aquilo que era uma obrigação evidente. Mas no momento seguinte, enquanto percorria a sala, começaram a prevalecer no seu cérebro outros pensamentos mais benignos.





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