- Lucille, por que me andas a envenenar?
- Estás doido, Archie, estás doido! - ripostou ela, ofegante.
A resposta de Mason gelou o sangue de Lucille. Não foi capaz de fazer outra coisa a não ser encará-lo fixamente, com os lábios pálidos entreabertos e as faces lívidas, num silêncio de desamparo, enquanto ele extraía da algibeira um frasquinho e o colocava à frente da vista, gritando:
- Estava no estojo das tuas jóias!
Por duas vezes tentou ela falar mas não conseguiu. Por fim, as palavras acudiram-lhe lentamente, uma a uma, aos lábios distorcidos:
- Mas nunca cheguei a usá-lo.
Ele procurou de novo na algibeira qualquer coisa. Tirou um papel, desdobrou-o e pôs-lho diante dos olhos:
- É o certificado do dr. Angus. Afirma que contém doze gramas de antimónio. Tenho também a declaração de Du Val, o farmacêutico que o vendeu.
Metia medo ver o rosto de Lucille. Estas palavras não admitiam réplica. Incapaz de reagir, manteve-se imóvel e com o olhar fixo e desesperado. Parecia uma ferazinha apanhada numa armadilha mortal. Ele perguntou-lhe:
- Que respondes?
A única réplica que obteve foi um movimento de desespero e de súplica. Então ele disse:
- Porquê? Preciso de saber porquê.
Enquanto falava, Mason reparou numa ponta da carta que ela introduzira às pressas no decote. Arrancou-a com um puxão. Ela soltou um grito desesperado e quis tirar-lha, mas ele manteve-a afastada com um braço enquanto lia o conteúdo.