Histórias Extraordinárias - Cap. 1: MÃO ESCURA Pág. 7 / 136

O motivo disto é tão grotesco que deveria mais dar vontade de rir. E, no entanto, o seu carácter familiar não o torna suportável. Pelo contrário, quanto mais o tempo passa mais os meus nervos se desgastam lamentavelmente. Se não está sujeito ao medo físico, dr. Hardacre, eu ficaria muito feliz se obtivesse a sua opinião acerca do fenómeno que tanto nos contraria.

- A minha opinião, seja qual for o seu valor, está às suas ordens. Posso perguntar-lhe qual a natureza desse fenómeno?

- Creio que a sua experiência seria mais proveitosa se ignorasse antecipadamente aquilo que talvez venha a descobrir. Sabe o que comportam de equívoco o trabalho cerebral inconsciente e as impressões subjectivas. Penso que seria preferível poupá-lo a isso.

- Que devo, então, fazer?

- Vou dizer-lhe. Pode ter a bondade de acompanhar-me por aqui?

Conduziu-me então da sala de jantar para um corredor comprido que desembocava numa porta; atrás desta porta uma enorme sala nua estava equipada como um laboratório, com uma quantidade de instrumentos científicos e de recipientes diversos. Numa prateleira colocada ao longo de uma parede, havia uma fila impressionante de bocais que continham amostras patológicas e anatómicas.

- Como pode ver, não abandonei os meus antigos trabalhos - disse Sir Dominick. - Estes bocais representam o resto do que foi outrora uma bela colecção; infelizmente, perdi a maior parte das minhas amostras durante o incêndio que consumiu a minha casa de Bombaim em 1892. Sob muitos aspectos, este sinistro custou-me muito caro. Tinha espécimes muito raros, e a minha colecção de esplénicos era provavelmente única no mundo. Eis os ilesos...

Deitei um relance de olhos, o suficiente para verificar que eles eram, de facto, de um grande valor e, do ponto de vista patológico, raríssimos: órgãos congestionados, quistos hiantes, ossos deformados, parasitas detestáveis, em suma, uma singular exposição dos produtos das Índias.





Os capítulos deste livro