- Há aqui, como vê, um canapé - prosseguiu o meu tio. - Não pensávamos oferecer a um hóspede um conforto tão parco, mas, atendendo ao teor da nossa conversa, o senhor seria muito amável se aceitasse passar a noite nesta sala. Rogo-lhe que não hesite em dizer-me se a minha proposta lhe desagrada.
- Absolutamente nada - respondi. - É muito aceitável.
- O meu quarto é o segundo à esquerda; no caso de sentir necessidade de ter companhia, bastar-lhe-á chamar-me; aparecerei imediatamente.
- Espero que não seja forçado a incomodá-lo.
- É pouco provável que eu adormeça. Já não durmo muito. Não hesite em chamar-me!
Como o nosso acordo estava alcançado, fomos ter com lady Holden ao salão e falámos de assuntos mais divertidos.
Afirmo sem o mínimo fingimento que a perspectiva desta aventura me encantava. Não pretendo ser mais corajoso do que os meus vizinhos mas quando estamos familiarizados com um tema, ficamos livres destes temores vagos e imprecisos que impressionam um espírito imaginativo. O cérebro humano é apenas capaz de uma única emoção forte de cada vez: se está devorado de curiosidade ou de entusiasmo científico, o medo não tem ali lugar. É certo que o meu tio me tinha declarado que na origem partilhara o meu ponto de vista; mas acho que a depressão do seu sistema nervoso podia ser devida tanto aos quarenta anos passados nas Índias como a uma qualquer aventura psíquica. Eu, pelo menos, era sólido, nervosa e cerebralmente falando; por isso, senti o agradável arrepio de antecipação que sente o caçador de atalaia próximo da toca da sua caça, quando fechei atrás de mim a porta do laboratório. Despi-me parcialmente, depois estendi-me no canapé que estava coberto de peles.
Para um quarto de dormir, a atmosfera não era a ideal.