Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 85 / 136

.. de que a próxima malvadez que cometer sobre mim será a última.

E ditas estas palavras, ao ouvir os passos de Wilson na escada, saí do quarto.

Sim, embora possa mostrar um ar venenoso e terrível, deve começar agora a aperceber-se de que tem tanto a recear de mim como eu dela.

Assassínio! É uma palavra horrível. Mas não se fala em assassinar uma serpente, em assassinar um tigre.

Que doravante tenha cuidado!

5 de Maio. Fui receber Agathe e a mãe à estação às onze horas.

Apresenta um ar muito animado, muito feliz, muito bela. E que prazer manifestou quando me tornou a ver!

Que fiz eu, pois, para merecer um tal amor?

Entrei com elas na sua residência, e almoçámos juntos. Num instante pareceu-me que um véu me ocultava todos os tormentos da minha vida.

Ela disse-me que estava pálido, cansado, doente. A querida menina atribui isto à minha solidão e à negligência de uma governanta mercenária. Deus queira que nunca conheça a verdade!

Que a sombra, se tiver que haver uma sombra, estenda sempre o seu negrume através da minha vida, e a deixe bem ao sol!

Volto de casa delas agora mesmo. Sinto-me um homem novo.

Com ela a meu lado, parece-me que poderia enfrentar tudo o que a vida entendesse trazer-me.

5 horas da tarde. Procuremos agora ser exactos. Procuremos anotar exactamente o que sucedeu.

A lembrança ainda está bem fresca no meu espírito e posso contá-lo correctamente, embora não seja muito provável que possa alguma vez esquecer o que se passou hoje.

Voltei de casa das Marden depois do lanche, e estava ocupado a fazer cortes microscópicos com o meu micrótomo de congelação, quando senti produzir-se de súbito aquela perda de consciência que me apavora e que bem conheço desde há pouco tempo.





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