Lia-lhe no olhar uma expressão de divertimento sinistro.
Ela deve ter lido o ódio e a ameaça no meu.
Já desesperava de poder dirigir-lhe a palavra quando Wilson foi chamado e saiu da sala. Fomos deixados frente a frente alguns minutos.
- Ora bem, professor Gilroy - disse-me ela com o sorriso amargo que lhe era próprio -, ou, antes, senhor Gilroy apenas, como passou o seu amigo Charles Sadler depois do baile?
- Mulher diabólica - exclamei - chegou agora ao fim das suas artimanhas! Estou farto. Escute o que tenho para lhe dizer.
Atravessei a sala com passadas largas e sacudi-a rudemente pelo ombro.
- Tão certo como haver um Deus no céu, juro que se cometer mais uma das suas malvadezas infernais sobre mim, a farei pagar com a sua própria vida. Cheguei ao limite do que um homem pode suportar.
- As nossas contas ainda não estão completamente saldadas - disse ela com um arrebatamento igual ao meu. Sei amar e sei odiar. Podia escolher e preferiu repelir com o pé o meu amor. Agora tem de provar o meu ódio. Será preciso fazer um pequeno esforço mais para pôr termo à sua obstinação mas acabará dominada. Miss Marden volta amanhã, pelo que ouvi dizer.
- O que é que isso lhe interessa? - exclamei. Macula-a só de pensar nela. Se a julgasse capaz de prejudicá-la...
Estava assustada. Eu bem o via, embora tentasse mostrar-se audaciosa. Lia o pensamento negro no meu espírito e recuava diante de mim.
- Ela é feliz por ter um herói assim - disse -, um homem que ousa ameaçar uma mulher só! Devo evidentemente felicitar miss Marden por ter um tal protector.
Esta linguagem era amarga, mas o tom e o ar eram ainda mais mordazes.
- Não serve de nada falar - disse eu -, não vim aqui senão para adverti-la... e isto do modo mais solene.