Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 86 / 136

Quando recuperei o domínio dos sentidos, achei-me sentado num quartinho muito diferente daquele onde tinha trabalhado.

Era confortável e claro, guarnecido de cadeiras cobertas com tecidos de algodão com desenhos, de cortinados multicolores e de mil bibelots miúdos nas paredes.

Um pequeno relógio de pêndulo ornamental fazia tiquetaque à minha frente e os ponteiros marcavam três e meia.

Tudo me parecia muito familiar e, no entanto, olhava com um ar espantado, até ao momento em que os meus olhos deram com a minha fotografia emoldurada, em cima do piano. Do outro lado achei uma outra fotografia representando miss Marden.

Então, naturalmente, reconheci o local onde me encontrava.

Era o toucador de Agathe.

Mas como explicar a minha presença? O que vinha fazer ali? Tinha sido enviado com algum objectivo diabólico?

Essa tarefa fora já executada? Seguramente, pois sem isso não me teriam permitido voltar ao domínio de mim próprio.

Oh, o que sofri então! Que tinha eu feito? Levantei-me bruscamente, no meu desespero, e este movimento fez cair no tapete um frasquinho que estava nos meus joelhos.

Não se tinha partido e apanhei-o. Trazia a etiqueta «Ácido sulfúrico forte».

Quando retirei a rolha de vidro, saiu um fumo espesso, ao mesmo tempo que um odor picante, sufocante, se espalhava pela sala.

Reconheci o frasco que guardava como reactivo químico no meu quarto.

Mas por que tinha eu trazido um frasco de vitríolo para o quarto de Agathe? Não era deste líquido espesso e fumegante que, sabemos, muitas mulheres ciumentas se serviram para destruir a beleza das rivais?

O meu coração deixou de bater quando examinei o frasco à luz. Graças a Deus, estava cheio!

Até então não fora, portanto, cometida nenhuma malfeitoria.





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