O Dia em que o Mundo Acabou - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 51 / 72

- Quanto tempo, Challenger? - perguntou Lorde John.

- Possivelmente, três horas - respondeu ele, com um encolher de ombros.

- Ao princípio eu estava assustada - disse a mulher dele. - Mas quanto mais me aproximo do momento, mais fácil parece. Não te parece que deveríamos rezar, George?

- Tu poderás rezar, querida, se quiseres - respondeu o homem grande, muito suavemente. - Todos nós temos as nossas formas de rezar. A minha é a aquiescência total com o que o Destino me traz... uma aquiescência alegre. A religião mais elevada e a ciência mais elevada parecem unidas nisso.

- Eu não posso, com verdade, descrever a minha atitude mental como aquiescência e muito menos aquiescência alegre - resmungou Summerlee, por cima do seu cachimbo. - Submeto-me porque tenho de me submeter. Confesso que teria gostado de mais um ano de vida para terminar a minha classificação dos fósseis de cré.

- O seu trabalho inacabado é uma pequena coisa - disse Challenger pomposamente -, quando comparado com o facto de o meu magnum opus, «A Escada da Vida» ainda está nas primeiras fases. O meu cérebro, a minha leitura, a minha experiência… de facto, todo o meu equipamento único… seriam condensados naquele volume que marcaria uma época. E no entanto, aquiesço.

- Calculo que todos deixámos algumas pontas soltas - declarou Lord John. – Quais são as suas, jovem amigo?

- Eu estava a trabalhar num livro de poemas – respondi eu.

- Bom, de qualquer maneira o mundo escapou a isso – disse Lord John. – Há sempre uma compensação algures, se procurarmos.

- E o senhor? – perguntei eu.

- Bem, acontece que estava pronto e preparado. Tinha prometido a Merivale que iria ao Tibete para a caça à onça na Primavera. Mas é difícil para si, Sr.ª Challenger, quando acabou de construir esta bonita casa.

- A minha casa é onde George está. Mas o que eu não daria para podermos fazer um último passeio juntos pela fresca da manhã naquelas dunas belíssimas!

As palavras dela ecoaram nos nossos corações. O Sol tinha rompido os nevoeiros quase transparentes que o tinham escondido, e todo o vasto Weald estava banhado por uma luz dourada. Sentados na nossa atmosfera escura e venenosa, aquela região gloriosa, limpa e varrida pelo vento parecia um sonho de beleza. No seu anseio, a Sr.ª Challenger estendeu a mão para a paisagem. Nós puxámos cadeiras e sentámo-nos em semicírculo à janela. A atmosfera já estava muito próxima. Pareceu-me que as sombras da morte se abatiam sobre nós - os últimos da nossa raça. Era como uma cortina invisível a fechar-se de todos os lados.

- Aquele cilindro não está a durar tanto - disse Lorde John, a inspirar profundamente.





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