A Princesa da Babilónia - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 25 / 82

Quando atirava ao alvo, o lugar onde se estava mais seguro era o ponto que ele visava. Mas o belo pássaro, voando tão rápido como a flecha, apresentou-se por si mesmo ao tiro, e tombou ensanguentado entre os braços de Formosante. O egípcio retirou-se, a rir tolamente. A princesa feria o céu com os gritos, chorava, lanhava as faces e o peito. O pássaro moribundo disse-lhe baixinho: "Queima-me, e não deixes de levar minhas cinzas para a Arábia Feliz, a leste da antiga cidade de Áden ou Éden, e expô-las ao sol sobre uma pequena fogueira de cravo e canela". Dito isto, expirou. Formosante permaneceu por muito tempo sem sentidos, e só voltou a si para romper em soluços. O pai, partilhando da sua dor, e soltando imprecações contra o rei do Egito, não teve dúvida em que aquele caso anunciava um sinistro futuro. Foi logo consultar o oráculo da sua capela. O oráculo respondeu:

«Mistura de tudo; morto vivo, infidelidade e constância, perda e ganho, calamidade e ventura. Nem o rei nem seu conselho nada puderam entender daquilo; mas ele afinal estava satisfeito de haver cumprido com os seus deveres religiosos.»

Enquanto o rei consultava o oráculo, a princesa, desolada, mandou prestar ao pássaro as honras fúnebres que ele ditara, e resolveu levá-lo para a Arábia, com perigo da própria vida. O pássaro foi queimado em linho incombustível, juntamente com a laranjeira em que pousara. Formosante recolheu-lhe as cinzas em um pequeno vaso de ouro todo cravejado de carbúnculos e brilhantes retirados da boca do leão. Pudesse ela, em vez de cumprir esse fúnebre dever, queimar vivo o detestável rei do Egito! esse era todo o seu desejo. No seu despeito, mandou matar os seus dois crocodilos, os seus dois hipopótamos, as suas duas zebras, os seus dois ratos, e mandou lançar as suas duas múmias no Eufrates; se tivesse à mão o boi Ápis, não o teria poupado.





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