- Ah! Até aos gangáridas, com certeza! - exclamou Formosante, que, enquanto deixava escapar tais palavras, compreendeu a sua tolice.
O rei, que nada sabia de geografia, perguntou o que entendia ela por gangáridas. Ela logo achou uma saída. O rei comunicou-lhe que era preciso fazer uma peregrinação; que já nomeara, para a sua comitiva, o decano dos conselheiros de Estado, o esmoler-mor, uma dama de honor, um médico, um boticário, e o seu pássaro, com toda a criadagem necessária. Formosante, que jamais saíra do palácio do rei seu pai, e que, até a chegada dos três reis e de Amazan, levara uma vida muito insípida na etiqueta do fausto e na aparência dos prazeres, ficou encantada com a peregrinação em vista. "Quem sabe - dizia ela baixinho ao seu coração - se os deuses não inspirarão ao meu querido gangárida o mesmo desejo de ir à mesma capela, e se não terei a felicidade de rever o peregrino?" Agradeceu carinhosamente ao pai, dizendo que sempre tivera secreta devoção pelo santo ao qual a enviavam.
Belus ofereceu um excelente almoço a seus hóspedes; só compareceram homens. Era tudo gente que não combinava: reis, príncipes, ministros, pontífices, todos ciumentos uns dos outros, todos a pesarem suas palavras, todos embaraçados com os vizinhos e consigo mesmos. A refeição foi triste, embora bebessem muito. As princesas ficaram nos seus aposentos, ocupadas com a partida. Comeram a sós. Formosante foi em seguida passear pelos jardins com o seu querido pássaro que, para a distrair, voava de árvore em árvore, ostentando a sua soberba cauda e a sua divina plumagem.
O rei do Egito, que estava bastante animado pelo vinho, para não dizer bêbedo, pediu um arco e flechas a um dos pajens. Esse príncipe era na verdade o mais desajeitado arqueiro do seu reino.