Criou-se, acaso,
Do poeta na mente, ou desvendou-lhe
A mão de Deus o íntimo ver da alma,
Que devassa a existência misteriosa
Do mundo dos espíritos? Quem sabe?
Dos vivos já deserta, a igreja torva
Repovoou-se, para mim ao menos,
Dos extintos, que ao pé das santas aras
Leito comum na sonolência extrema
Buscaram. O terror, que arreda o homem
Do limiar do tempo às horas mortas,
Não vem de crença vã. Se fulgem astros,
Se a luz da Lua estira a sombra eterna
Da cruz gigante (que campeia erguida
No vértice do tímpano, ou no cimo
Do coruchéu do campanário) ao longo
Dos inclinados tectos, afastai-vos!
Afastai-vos daqui, onde se passam
À meia-noite insólitos mistérios;
Daqui, onde desperta a voz do arcanjo
Os dormentes da morte; onde reúne
O que foi forte e