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Capítulo 11: XI - O subterrãneo

Página 102

– Eu! – disse a mesma voz, acompanhando esta palavra com uma grande risada.

– É a voz e o rir de Dom Bibas! – exclamou o abade ainda sobressaltado. – Agora me recordo de que fica para este lado a sua humilde pousada.

O monge, o cavaleiro e todos os habitantes dos paços de Guimarães haviam-se completa e profundamente esquecido do truão, como porventura terá acontecido a mais de um dos nossos leitores.

Neste momento a luz de uma lanterna de furta-fogo deu de chapa nos vultos do Lidador e de Fr. Hilarião. À ténue claridade que nos próprios corpos se refrangia, eles viram um braço, que segurava a lanterna no vão de uma porta baixa meia cerrada, que mais parecia o ádito da pocilga de um mastim que de habitação de homens. No meio do vão escuro luziam dois olhos, e alvejavam os dentes de boca escancarada por um rir que devia ser feroz.

– Que fazes aqui, truão? – perguntou o cavaleiro colérico.

– Escutava – respondeu tranquilamente o bobo estendendo a cabeça para os dois.

– Foi desgraça tua! porque me é necessário o teu silêncio – murmurou o Lidador, largando a espada na bainha, travando do braço de Dom Bibas, e levando a mão ao punhal que tinha no cinto. O bobo não deu o menor sinal de susto e, vendo este movimento do cavaleiro, que porventura só pretendia aterrá-lo, com um tom de amargo escárnio replicou ao ouvir aquelas palavras ameaçadoras:

– Não gasteis comigo, nobre senhor, a única moeda com que vós outros os poderosos comprais não só o silêncio, mas tudo aquilo de que careceis para satisfazer paixões brutais. Se eu quisesse delatar o que vos ouvi, não fora tão louco que vos falasse.

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pág. 102 (Capítulo 11)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 102

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173