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Capítulo 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais

Página 140

– Não to aconselho. Se morreres, Egas te seguirá ao sepulcro.

– E se Garcia de novo recusar a posse da sua vítima? – interrompeu a infeliz, procurando ainda segurar-se na borda do abismo.

– Egas morrerá – respondeu tranquilamente Fernando Peres.

– Vós, homem bárbaro, jurastes perder o desgraçado. Por violência nunca o generoso Garcia aceitará a minha mão.

– Por violência? – interrompeu o conde em tom de espanto. – Violento-te eu? Quero esquecer-me do meu ódio por amor de ti: tu não queres esquecer-te de uma paixão louca e impossível. Eis a que tudo se reduz. Cede, e Egas será salvo. Direi a Garcia que te arrependes dos teus desprezos; que queres ser sua. Se as tuas palavras, se o teu gesto não desmentirem meu dito ele será feliz; e Egas, livre e persuadido de que o traíste, breve se esquecerá de ti. Faço a ventura de três; é por isso que me chamas bárbaro?

Dulce parecia sufocada: o arquejar do seio da infeliz soava como o de um moribundo. Foi o som que se ouviu por alguns momentos sussurrar nos seus lábios. Finalmente com a energia da última desesperação, que simula a tranquilidade, disse em voz submissa e lenta, mas firme:

– Serei mulher de Garcia Bermudes... Depois!...

– Depois o que aprouver a Deus e à Virgem Maria – respondeu o conde alçando os olhos devotamente e apontando para o céu.

O malvado saíra com seu intento. Voltou as costas a Dulce, e desapareceu na escuridão do longo corredor que dava para a sala do conselho e para a sala de armas.

Nessa mesma tarde o muito valente e gentil cavaleiro Garcia Bermudes tinha recebido por sua mulher de bênção na capela dos paços de Guimarães a mui formosa e rica dama D. Dulce, senhora do solar e préstamos dos Bravais. Um banquete de boda estava preparado para festejar os noivos. O aposento destinado para a festa se atulhara de donas, donzelas e cavaleiros. Faltava apenas D. Teresa e o conde. Este finalmente chegou, conduzindo pela mão a rainha até ela se assentar no estrado real. Depois, o conde desceu e veio tomar o seu lugar. Apenas se assentou, chamou o pajem Tructesindo, que estava em pé atrás da sua cadeira de espaldar, e disse-lhe:

– Corre, e vai perguntar ao vílico do castelo se está bem segura a ameia do ângulo do norte na torre alvarrã, e se ele tem puída e pronta a boa corda de cânave de quatro ramais.

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pág. 140 (Capítulo 13)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 140

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173