O Bobo - Cap. 14: XIV - Amor e vingança Pág. 151 / 191

– O que exiges, repito, é impossível! – tornou Dulce com a energia tranquila de profunda desesperação. – Nestes paços eu ficarei segura... Depois... Se tu soubesses... oh, nada!... absolutamente nada... Sou eu que não sei o que digo... Por Deus, que partas!... Um instante pode perder-nos.

– Partirei, e já – acudiu o cavaleiro dando alguns passos e fitando os olhos em Dulce, que se assemelhava a uma estátua de mármore –, mas tu partirás comigo, porque eu jurei salvar-te, e tu juraste seguir-me.

– Tem piedade de mim, Egas! – murmurou a donzela erguendo as mãos.

– Vem! – foi a resposta que ele proferiu com o tom de uma resolução inabalável, segurando o braço de Dulce e pondo o pé no primeiro degrau da escada secreta.

De repente a palidez da donzela converteu-se em vivo rubor. A timidez desapareceu dos seus olhos, que brilharam febris, e, soltando-se da mão de Egas, lhe disse em tom dolorosamente severo: – Afasta-te! Vedado te é o tocar-me.

O cavaleiro recuou espantado, cruzou os braços, e contemplou-a por alguns instantes em silêncio.

– Entendo-te! – exclamou ele com um acento em que se misturavam mil afectos opostos. – Não queres pôr à prova a lealdade de um homem que tudo arriscou por ti, que por ti só vivia, que por ti ia morrer em suplício infame!... Que era, pois, o teu amor, donzela? Passatempo e engano! Alguém mentia ainda há pouco, dizendo que hoje me seguiria, alguém escarnecia o meu amor, porque vendera sua inocência ao estrangeiro, e talvez me vendeu a mim! Dulce, quem disse ao conde de Trava que ontem estive aqui?





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