– Não – disse ele –, não quero dever à obediência o que só quisera merecer pelo amor.
– Que importa? – interrompeu Fernando Peres. – Deixa, Garcia, aos trovadores essas afeições que se pagam de submissão e suspiros. Juramento feito pelas cinzas de meu pai nunca deixei de cumpri- lo. Poderia agora fazê-lo?
O cavaleiro pareceu meditar um momento; depois acrescentou:
– Bem o sei; mas promete-me uma só cousa.
– Qual é? – atalhou vivamente o conde.
– Que não será hoje que o cumpras.
– Oh, quanto a isso – respondeu Fernando Peres sorrindo –, não o jurei eu. Nem poderia jurá-lo. O conselho dos barões, que vai daqui a pouco ajuntar-se nos paços de Guimarães, deve ser demorado e tempestuoso. Conheces o que lá há-de tratar-se; e que não conto com todos os ricos-homens de Portugal como conto contigo. Teremos brava batalha.
– Enquanto este braço puder menear uma acha de armas; enquanto nestas veias houver uma gota de sangue, aquela ferirá sem piedade os teus inimigos, este será derramado para te defender a ti.
O conde caíra naturalmente na realidade da vida, e voltara ao habitual egoísmo de que por momentos Garcia Bermudes o fizera sair. Quando o avistara, ao atravessar o burgo, tinha-lhe ocorrido consultar o cavaleiro, cuja mestria de guerra ele conhecia, sobre o sistema que devia seguir ao começar a luta com Afonso Henriques, luta que bem conhecia ser inevitável. Aproveitando o ponto em que tocava quase imprevistamente, foi, sem revelar nunca os receios que o assaltavam, conduzindo a conversação de modo que, depois de haverem rodeado o bosque, ao entrarem no castelo, os dois haviam calculado e disposto todas as traças que julgavam oportunas para chegarem naquela guerra iminente a um desenlace feliz para a bela infanta de Portugal e por consequência para o ambicioso filho de Pedro Froilaz.