Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 5: V - A madrugada

Página 44

– Não – disse ele –, não quero dever à obediência o que só quisera merecer pelo amor.

– Que importa? – interrompeu Fernando Peres. – Deixa, Garcia, aos trovadores essas afeições que se pagam de submissão e suspiros. Juramento feito pelas cinzas de meu pai nunca deixei de cumpri- lo. Poderia agora fazê-lo?

O cavaleiro pareceu meditar um momento; depois acrescentou:

– Bem o sei; mas promete-me uma só cousa.

– Qual é? – atalhou vivamente o conde.

– Que não será hoje que o cumpras.

– Oh, quanto a isso – respondeu Fernando Peres sorrindo –, não o jurei eu. Nem poderia jurá-lo. O conselho dos barões, que vai daqui a pouco ajuntar-se nos paços de Guimarães, deve ser demorado e tempestuoso. Conheces o que lá há-de tratar-se; e que não conto com todos os ricos-homens de Portugal como conto contigo. Teremos brava batalha.

– Enquanto este braço puder menear uma acha de armas; enquanto nestas veias houver uma gota de sangue, aquela ferirá sem piedade os teus inimigos, este será derramado para te defender a ti.

O conde caíra naturalmente na realidade da vida, e voltara ao habitual egoísmo de que por momentos Garcia Bermudes o fizera sair. Quando o avistara, ao atravessar o burgo, tinha-lhe ocorrido consultar o cavaleiro, cuja mestria de guerra ele conhecia, sobre o sistema que devia seguir ao começar a luta com Afonso Henriques, luta que bem conhecia ser inevitável. Aproveitando o ponto em que tocava quase imprevistamente, foi, sem revelar nunca os receios que o assaltavam, conduzindo a conversação de modo que, depois de haverem rodeado o bosque, ao entrarem no castelo, os dois haviam calculado e disposto todas as traças que julgavam oportunas para chegarem naquela guerra iminente a um desenlace feliz para a bela infanta de Portugal e por consequência para o ambicioso filho de Pedro Froilaz.

<< Página Anterior

pág. 44 (Capítulo 5)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 44

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173