– E fá-lo-ei de bom grado – tornou Tructesindo. – Mandai, meu tio, que eu vos obedecerei.
– Um peão, vindo de longes terras, buscava há um momento Gonçalo Mendes da Maia e o abade de D. Muma. O cavaleiro e o monge devem ora estar com esse mensageiro lá em baixo. Acerca-te deles por meio do tropel que flutua apinhado por toda a parte, e procura saber quem é, o que quer, donde veio. Escuta também, se puderes, suas palavras.
– E depois? – perguntou o gentil pajem.
– Vem prestes dizer-me o que lá se há passado.
Ligeiro como um gamo, Tructesindo desapareceu. O conde, chegando daí a pouco a um dos balcões da imensa sala de armas, viu ainda o Lidador e o abade que, encaminhando-se para uma viela, que corria entre os paços e o lanço ocidental da muralha, pareciam atentos às palavras de um homem, cujo rosto ele não pôde bem divisar, porque o levava meio escondido no capuz de um amplo zorame de lã parda e grosseira, que quase até aos pés o cobria. Perto porém dos três viu Tructesindo, que fingia retouçar com os outros pajens, ora travando-se a braços com eles, ora fugindo com grandes apupos e risadas, mas girando sempre, como a borboleta ao redor da fogueira, em volta de Gonçalo Mendes, do desconhecido e do abade.
Satisfeito da habilidade com que o seu pajem parecia desempenhar a comissão que lhe dera, Fernando Peres voltou-se para dentro sorrindo de contentamento. Achou-se então face a face com Garcia Bermudes tão triste no aspecto como nessa manhã o encontrara. Além disso, porém, no carrancudo do gesto dava mostras de que ideias mui graves o preocupavam. No seu ar o conde percebeu que ocorrera algum acontecimento extraordinário.
– Preciso de falar-vos à puridade – disse Garcia Bermudes, procurando não ser ouvido dos cortesãos que perpassavam.
– Vinde comigo – respondeu o conde de Trava no mesmo tom e travando-lhe do braço.