O Bobo - Cap. 8: VIII - Reconciliação Pág. 73 / 191

Nesta postura, à luz duvidosa da noite, em silêncio profundo, e no meio de atmosfera recendente e tépida agitada por leve aragem de Estio, a fascinação do amor era irresistível.

Aquela espécie de delírio em que Dulce caíra trocou-se repentinamente em impensada realidade. Um leve rugir de folhas secas a despertou do seu devaneio. No mesmo momento um cavaleiro coberto de saio e cervilheira de malha estava a seus pés, e segurando- lhe trémulo uma das mãos lha cobria de beijos ardentes.

Todo o ciúme, toda a procela, acumulada por dias de intenso martírio no coração de Egas, desaparecera.

– Meu Deus! – quis bradar Dulce, aterrada. Os lábios não puderam todavia repeti-lo.

Mas instintivamente recuara.

O encanto que havia subjugado por um instante o mancebo quebrou-se então: a sua alma reconquistou o esforço da desesperação, que tão de súbito o abandonara.

Ergueu-se e recuou também; mas em pé, e cruzando os braços, olhou para a pupila de D. Teresa como o juiz para um réu.

– Faz agora três anos e um dia – disse ele com voz lenta e na aparência tranquila – que neste mesmo lugar te jurei estar hoje aqui a teus pés! Meus juramentos cumpriram-se. Dulce, lembras-te dos teus?

– Meu Deus! Egas! tu aqui? Oh! que mal te fiz eu, para me matares com o inesperado da tua vinda? – murmurou Dulce desfalecendo, e vindo cair nos braços do trovador.

Mas estes braços não se uniram para a estreitar contra o peito! O cavaleiro afastou-a de si brandamente, e prosseguiu:

– Não é minha a culpa se um raio caído do céu vem partir a cadeia dos teus dias risonhos tecida pela traição. Meus juramentos cumpriram-se. Dulce, que fizeste dos teus?





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