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Capítulo 9: IX - O desafio

Página 81

Dir-se-ia, até, que intentava fazer sobressair a sua formosura, que os anos, os cuidados do governo e os trabalhos das longas guerras que sustentara contra D. Urraca, e depois contra o imperador, tinham assaz desbotado, mas que ainda faziam realçar os ricos trajos que naquele dia vestira. Eram estes um epitógio de grisisco orlado de peles mosqueadas, e apertado com um cordão entrançado de prata e seda de várias cores; uma coifa ou rede, adornada de pedras preciosas que lhe retinha as longas tranças; um colar de ouro, o qual lhe caía sobre a camisa de ranzal alvíssimo, que em pregas miúdas lhe vinha fechar na garganta; e um amplo manto de ciclatão vermelho, que pendente dos ombros lhe rojava pelo chão. Com este vestuário, e no porte e meneios altivos, a rainha trazia de certo modo à lembrança a nobre e majestosa figura de seu pai, o grande Afonso VI.

A causa desta repentina mudança estava nas novas que haviam chegado poucas horas antes. A audácia do infante, a licença desenfreada com que os seus homens de armas assolavam as vilas e honras do infantático, isto é, do que constituía propriamente o apanágio de D. Teresa, as violências que praticavam contra os vilões e homens de criação desses mesmos testamentos ou herdades, o furor com que derribavam os seus castros ou lugares fortificados, e sobretudo a intenção com que, segundo afirmavam os espias, o moço príncipe se acercava dos muros de Guimarães, e que eram nada menos do que lançar em prisão perpétua Fernando Peres e a própria mãe, tinham finalmente sufocado no coração desta a voz do amor materno.

Quando o conde de Trava, obedecendo às ordens que lhe transmitira o capelão-mor, se apresentou perante ela, os olhos de D. Teresa faiscavam de cólera e de indignação. Debalde Fernando Peres lhe ponderou os inconvenientes de arriscar a sua fortuna e, o que mais era, a liberdade ou a vida em uma batalha campal: a violência do carácter varonil da rainha que triunfara, ao menos momentaneamente, do mais profundo afecto, o amor maternal, não podia ceder às considerações da prudência.

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pág. 81 (Capítulo 9)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 81

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173