VII
Tivesse eu a estrela d'alva,
Que de manhã treme e desce!
Tivesse a estrela da tarde,
A que à noitinha aparece!
Roubava ao céu as estrelas,
Descravava-as desse espaço,
E, unindo-as ambas com um laço
D'aveludada fitinha,
Ia dar-tas por fivelas
Da tua negra botinha!
Pudesse eu tirar do peito
A fibra mais melindrosa
Que me envolve o coração!
Havia dar-te, formosa,
Essa corda dolorosa
Da minha harpa de Sião...
Dar-te a fibra de meu peito,
Que fosse (e, só com dizê-lo,
Coração, já te desatas...)
A fita com que tu atas
A trança do teu cabelo!
Pudesse eu ter a cambraia
Da fímbria dos sonhos meus!
Toda feita d'esperanças,
E da luz de novos céus,
E do ar dum novo espaço!
Talhava-te nela o véu
Que te cobre, num abraço,
O pescoço mais de meio...
Que, enquanto dormes e sonhas,
Sonha e dorme no teu seio!