Guardasse eu inda o cristal
Das minas da minha infância,
O meu infantil ideal,
A flor, o azul, a fragrância!
Os meus cristais de Poeta,
- A fé, a crença, a confiança! -
Fazia deles um prisma
Com que visses, neste escuro,
Cor do céu e d'esperança,
O mundo, a vida, o futuro!
VIII
Adornou o meu quarto a flor do cardo;
Perfumei-o d'almiscar olorente;
Vesti-me com a púrpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo:
Ungi-me, face e corpo, com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Misteriosa visita a quem aguardo.
Mas que filha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre à húmida pousada?...