Verás que é terra a lava do vulcão,
Onde podem vir flores de beleza...
Que o amor faz do lodo uma pureza...
E que é sempre criança o coração!
O coração! o pobre encarcerado!
Porque o prenderam, não lhe chames fera,
Que, se o vissem à luz da primavera,
Solto e livre, seria abençoado!
Se ruge e brada, é que está preso, e sofre...
Se blasfema, é que Deus não lhe aparece...
É como ouro de lei que se escurece
Longe da luz, fechado em negro cofre.
Mas esse ímpio, talvez, é bom e crente...
O forçado da vida é um poeta...
Esse mudo sombrio tem secreta
Em si uma voz doce d'inocente.
Esse doudo, que luta com o destino,
E se ergue e brada, e só de raiva chora,
Mais nada pede a Deus, em cada hora,
Que fazer-se criança e pequenino.