Que à palavra só pede esse gemido
Que a pomba pede ao ar, se o voo levanta...
E adivinha, co'o instinto da alma santa,
Quanto à alma ficou do Éden perdido...
Dessa que, quando dói, tanto consola,
E às sombras do viver dá seu crepúsculo...
E da face distende cada músculo...
E é, em ermo pinhal, canto de rola...
Como aquela mulher de Samaria
Em cujas mãos bebeu Cristo, sequioso...
E como o doce olhar, longo e mavioso,
Com que nos cobre a pálida Maria...
Poesia, que não se ergue tumultuosa,
Nem luta, nem arqueja no delírio,
Mas se abre dentro d'alma, como lírio,
Ou primeiro sorriso d'uma esposa...
Fina gaze do véu d'alguma santa,
Que nos mostra uma estrela em cada ponto...
Manto d'ouro de fada d'algum conto,
Que em cada fio tem uma harpa, e canta...