Debaixo da palavra a alma palpita,
Como o sangue nas veias dum infante;
E vê-se o coração, a cada instante,
Lançando, ao perpassar, luz infinita!
Desta poesia, sim! que nos eleva,
Sem se ver com que mão, e alivia
De quanta sombra cobre o nosso dia,
Quanta nuvem na face o sol nos leva!
Desta poesia, sim! que a gente chora
Sem se ver com que lágrimas - e fica
Como ao sair d'um sonho - e não se explica,
Nem se estuda, nem lê... mas só se adora!
Ó poetas, poetas! desse coro
De cantores febris, qual é de vós
Que encontrou já no ar aquela voz,
Um tal misto d'amor e de sons d'ouro?
Debaixo dessas mãos d'artista, ardentes,
A palavra palpita e vê-se a ideia...
Mas amar! mas sonhar! e, à lua cheia,
Às visões apalpar os véus trementes!...