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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 11
Rejeitaram-lhe as potências aliadas as propostas, tendo-lhe em conta de nada os dezasseis milhões que o diplomata oferecia ao primeiro-cônsul. Sem delongas, foi o território português infestado pelos exércitos de Espanha e França. As nossas tropas, comandadas pelo duque de Lafões, não chegaram a travar a luta desigual, porque a esse tempo Luís Pinto de Sousa, mais tarde visconde de Balsemão, negociara ignominiosa paz em Badajoz, com cedência de Olivença à Espanha, exclusão de Ingleses de nossos portos, e indemnização de alguns milhões à França.

Estes sucessos tinham irritado contra Napoleão os ânimos daqueles que odiavam o aventureiro, e para outros deram causa a congratularem-se do rompimento com a Inglaterra. Entre os desta parcialidade, na convulsiva e irrequieta academia, era voto de grande monta Simão Botelho, apesar dos seus imberbes dezasseis anos. Mirabeau, Danton, Robespierre, Desmoulins, e muitos outros algozes e mártires do grande açougue, eram nomes de soada musical aos ouvidos de Simão. Difamá-los na sua presença era afrontarem-no a ele, e bofetada certa, e pistolas engatilhadas à cara do difamador. O filho do corregedor de Viseu defendia que Portugal devia regenerar-se num baptismo de sangue, para que a hidra dos tiranos não erguesse mais uma das mil cabeças sob a clava do Hércules popular.

Estes discursos, arremedo de alguma clandestina objurgatória de Saint-Just, afugentavam da sua comunhão aqueles mesmos que o tinham aplaudido em mais racionais princípios de liberdade. Simão Botelho tornou-se odioso aos condiscípulos que, para se salvarem pela infâmia, o delataram ao bispo-conde, reitor da Universidade.

Um dia, proclamava o demagogo académico na praça Sansão aos poucos ouvintes que lhe restaram fiéis, uns por medo, outros por analogia de bossas. O discurso ia no mais acrisolado da ideia regicida, quando uma escolta de verdeais lhe aguou a escandecência. Quis o orador resistir, aperrando as pistolas, mas de sobra sabiam os braços musculosos da coorte do reitor com quem as haviam.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 11

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139